segunda-feira, outubro 09, 2017

Qualidade de ensino - 1

O programa de CN de 5.º já não cabia em três tempos de 45 minutos. No ano passado (ano de prova), por imposição superior, os alunos frequentemente não tinham aulas para fazerem rastreios visuais, assistir a sessões sobre higiene dentária (e etc...). Durante o ano, os professores de ciências tiveram (também) de colocar (nas aulas!) os alunos a lavar os dentes a seco com kits distribuídos pelo ministério (escova, pasta e fluor - que não é um "medicamento neutro" e tem contraindicações e efeitos colaterais). Depois de esfregarem os dentes um determinado tempo contado militarmente pelos professores,  tinham de bochechar com fluor (!) ... isto em todas as aulas e com turmas de 26 a 28 alunos. Gastar tempo a distribuir (pelas mãos do professor) copinhos, com o nome dos alunos, que depois de usados eram encaixados uns nos outros (imensa higiene) parece surreal, mas aconteceu em todas as aulas e ciências. Isto tudo e a necessidade/imposição de fazer regularmente atividade experimental (isto é que devia ser essencial, mas com condições e tempo), reservar umas horas para a educação sexual (por despacho... ), que invariavelmente todos atiram para cima do professor de ciências,  fez com que os conteúdos (imensos) tivessem de ser passados a correr... 
Imaginem lá o que foi aprendido/decorado assim! Este ano, na matriz PPIP, as ciências estão reduzidas a dois tempos de 50 minutos com as mesmas exigências de atividade experimental e aprendizagens essenciais extensas que não mudam uma vírgula do currículo anterior, fora o resto que há de vir (até eu não dei uma aula de matemática para levar os alunos a fazer o dito rastreio visual)... Já nem falo dos até 25% do domínio de autonomia curricular... Porque se fosse a sério mesmo, reduzia-se a disciplina de ciências a um essencial importante e compatível com o tempo disponível, mas que permitisse às crianças efetivamente aprender alguma coisa, consolidar conhecimentos, recuperar dificuldades, desenvolver competências básicas, ir a rastreios, lavar os dentes, assistir a palestas, fazer atividade experimental, saídas de campo e etc.. Se acham que exagero... quem imaginou que era possível cumprir estas exigências todas em MUITO menos tempo sem mudar o programa, venha até às escolas e mostre como se faz.
A bem dizer... acho que os resultados na prova de ciências foram excecionais, tendo em conta todas as coisas que aconteceram... E se não foram (aos olhos de quem produz relatórios tratando os dados a frio sem conhecer a realidade) então podemos (re)começar a treinar os alunos para os exames digo provas de aferição... esquecendo o resto. Tudo ao mesmo tempo é impossível.
Chama-se a isto "querer meter o Rossio na Rua da Betesga"...  
(... ou brincar ao "faz-de-conta")

 imagem vista aqui

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